REDE TUPI DE TELEVISÃO
O pioneirismo e os mais arrojados
projetos de modernização sempre fizeram parte da vida profissional de um
personagem bastante destacado dentro da política e da imprensa nacional,
responsável pela criação de um dos maiores impérios já vistos no País no campo
das comunicações. Seu nome: Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo,
ou como era apelidado, Chatô.
Aquele 18 de setembro de 1950, apesar dos inúmeros improvisos, foi palco de
uma grande festividade inaugural de grande glamour na sociedade paulista. O
Brasil, pela primeira vez na história das comunicações, via-se no ar em um
aparelho ainda em fase de aperfeiçoamento e em circuito aberto. No palco da
nova e revolucionária emissora, grandes nomes do rádio, como Lima Duarte, o
casal Aírton e Lolita Rodrigues, dentre outras personalidades, inclusive o próprio
Assis Chateaubriand. O hino da emissora, que seria cantado pela hoje
"Primeira-Dama da TV brasileira “Hebe Camargo”, recebeu a interpretação de
Lolita Rodrigues (na época, ainda conhecida como Lolita La Salerosa).
A partir daí, lançava-se um novo
tempo na história das comunicações brasileiras, embora ainda restrito apenas às
camadas mais elevadas da sociedade, devido ao elevado custo de um televisor.
Diz a lenda que Assis Chateaubriand, de tão empolgado, quebrou uma garrafa de
champanhe sem querer em uma das duas câmeras RCA que estavam no local da festa,
desse jeito a TV brasileira foi inaugurada com apenas 50% de sua capacidade. E
a lenda reza também que, acabada a inauguração, a equipe se deu conta de que
não havia o que colocar no ar no dia seguinte, pois ninguém tinha pensado
nisso.
Entretanto, o autor de novelas Cassiano Gabus Mendes que, com apenas 23 anos
assumiu a Direção Artística da Tupi, não podia ouvir essas histórias, já que
ele desmentia quantas vezes fosse necessário. "É tudo invenção do Lima Duarte.
Como ele é muito engraçado, as pessoas acabam se convencendo", dizia ele
antes de falecer, em 1994. "Chateaubriand era um homem esclarecido, não ia
danificar equipamento e tínhamos programação para as três semanas
seguintes".
Os primeiros anos de funcionamento da Tupi, ou PRF-3 TV Tupy-Difusora, foram
marcados pela improvisação e pela irregularidade no horário de exibição de seus
programas, além da rudimentar tecnologia, sempre sujeita a panes e falhas
operacionais. Todavia, acostumados à improvisação e rapidez do rádio, os
pioneiros não tiveram problemas em adaptar-se ao moderno veículo e aprenderam
muito: ator virava sonoplasta, autor dirigia, diretor entrava em cena.
A TV Tupi dos primeiros anos foi uma
verdadeira escola. Aos poucos, os programas ganharam forma, como o primeiro
telejornal e a primeira novela. A programação era intimamente baseada em peças
teatrais, conforme visto no "TV de Vanguarda" e nas primeiras
novelas, destacando-se "Sua Vida Me Pertence", protagonizada por
Walter Forster e Vida Alves, primeiro casal a protagonizar uma telenovela, além
do primeiro beijo, mesmo sendo "selinho". O jornalismo, embora
engatinhante, nasceu um dia após a inauguração oficial da emissora, através do
"Imagens do Dia".
Um detalhe bastante curioso nesses primeiros anos de TV no Brasil foi a presença
dos chamados interprogramas, assim como eram chamados os slides colocados antes
da entrada das atrações. Na Tupi, os atrasos, que eram constantes, deixavam os
telespectadores bastante ansiosos e chateados com a presença do índio que
simbolizava a Rádio Tupi de São Paulo, prefixo PRG2. Na verdade, era um índio
zangado que aparecia no test-patern. Para não associar a tradicional marca da
emissora radiofônica aos atrasos, criaram-se novas opções através de cartazes
denominados "interprograma". A partir daí, nascia a mais famosa
figura da história da emissora: o Tupiniquim. Tratava-se de um indiozinho cujo
cocar era representado por um par de antenas. Por representar uma criança, o
Tupiniquim ganhou muita simpatia principalmente pelo público infantil da época.
O Tupiniquim foi também o padrão de todas as Emissoras Associadas, apesar de
que a TV Tupi do Rio já tivesse seu padrão: o Curumim.
Ele era também um indiozinho, mas sem
o par de antenas, que ficava, digamos assim "dentro do 6", que era o
número do canal na Cidade Maravilhosa.
Em anos posteriores, os Diários
Associados ampliavam ainda mais os seus investimentos na nascente área da TV,
fundando emissoras nas principais cidades brasileiras. No Rio, em janeiro de
1951, com a chegada da TV Tupi carioca que tinha como símbolo o índio
Curumim(como já foi citado) e que, no ano de 1955 mudava suas instalações da
Rádio Tamoio para o antigo Cassino da Urca. Em Belo Horizonte, em 1955, com a
chegada da TV Itacolomi. No final dos anos 50, as demais regiões brasileiras
também foram presenteadas com uma emissora associada de TV. A concorrência com
outros grupos que também instalavam emissoras tornava-se presente ainda na
década de 50 e a modernização tecnológica e as propostas de programação
evoluíam no mesmo passo, conforme visto nas tradicionais atrações baseadas em
grandes sucessos internacionais.
Como exemplo, destacou-se "O Céu é o Limite", um jogo de perguntas e
respostas apresentado por Jota Silvestre.
Há uma história muito curiosa sobre a chegada da TV no Rio. A diretoria dos
Associados queria instalar a torre transmissora no Corcovado, ao lado do Cristo
Redentor, para cobrir toda a Cidade Maravilhosa. Porém, o Clero local acabou
chiando(e com razão) quando soube disso e impediu que a torre fosse posta lá.
Assim, ela acabou instalada em outro cartão postal carioca: o Pão de Açúcar.
Alguns anos depois, o sinal da Tupi no Rio de Janeiro passou a ser transmitido
pela torre do Sumaré, lá mesmo no Rio. É por isso que o Capitão Aza, em sua
frase de abertura a cita. Por incrível que pareça, Sumaré era o nome também do
bairro onde estava a sede da TV Tupi de São Paulo, na Avenida Alfonso Bovero.
Entre os anos 50 e 60, a novela "O Direito de Nascer" foi produzida e
exibida pela Tupi em São Paulo. No Rio, ela foi exibida...pela TV Rio! Isso
mesmo, a novela da Tupi chegou aos cariocas via TV Rio. Existem muitas
histórias sobre o ocorrido. Uns dizem que a Tupi Paulista encarava a Tupi
Carioca como concorrente, e outros dizem que as fitas dos capítulos de "O
Direito de Nascer" foram, por engano, entregues à sede da
"Carioquinha", como era chamada carinhosamente a TV Rio, que
pertencia à Rede de Emissoras Unidas, de propriedade de Paulo Machado de
Carvalho, fundador e dono, na época, da TV Record.
Voltando para a história da Tupi, a chegada do video-tape, datada do início dos
anos 60, tornou mais fácil a integração entre todas as emissoras associadas,
nascendo com isso o embrião daquilo que seria uma TV operando em rede. As
novelas, agora gravadas e editadas, deixaram resultados surpreendentes,
sepultando de vez os improvisos e aquele longo tempo de espera onde eram
projetados slides temáticos com a presença dos indiozinhos Tupiniquim(SP) e
Curumim(RJ). O jornalismo, ainda incipiente, tinha como um dos carrochefes o
"Repórter Esso", ainda nos tempos em que cada cidade realizava a sua
edição. O "Repórter Esso" ficou 18 anos no ar. Os locutores Heron
Domingues e Gontijo Teodoro, oriundos do rádio(onde o "Repórter Esso"
já fazia sucesso desde 1941), entravam no ar com as notícias nacionais e internacionais
ao som de um dos mais famosos prefixos musicais da história do rádio e da
televisão no Brasil. Aliás, no início dos anos 60, as instalações da Tupi
Paulista mudavam-se para o prédio da Avenida Alfonso Bovero, no bairro do
Sumaré, onde ficaria até a falência, em 1980. Desde 1990 até hoje, o prédio
abriga as instalações da MTV Brasil, além de alguns canais por assinatura do
Grupo Abril e a TVA.
No ranking de audiência nos anos 60, a Tupi enfrentava o páreo com a Record e a
Excelsior, as quais apostavam bastante em dramaturgia e musicais. No mesmo ano,
a Tupi mudou do Canal 3 para o Canal 4, já que a TV Cultura (na época
pertencente aos Diários Associados e que era chamada de "Irmã Caçula da TV
Tupi"), havia sido fundada no Canal 2 e as ondas estavam uma interferindo
na outra. E também porque o Canal 4 e o Canal 5 (na época que era TV Paulista e
hoje é TV Globo) possuíam faixas longas e suas imagens não interferiam-se uma
na outra. A Globo, nascida em 1965, no Rio, ainda era uma emissora qualquer de
TV, embora já estivesse nos seus planos a cobertura em rede nacional, que
destronaria qualquer concorrente poucos anos depois.
No setor de dramaturgia, a Tupi destacou-se em 1968 com "Beto
Rockfeller", novela que colocava no ar pela primeira vez uma cidade como
cenário, iniciando uma nova fase da produção do gênero na TV brasileira.
Outro fato marcante na história da
Tupi aconteceu um ano depois, em 1969, quando transmitiu a chegada do homem à
Lua, simultaneamente com a Globo.
Definitivamente, a televisão tornava-se de vez a testemunha dos fatos históricos
e isso não deixava de ser apenas o começo de um processo de evolução ao longo
de décadas posteriores.
Mas nem tudo corria bem nos
bastidores da emissora pioneira do Brasil ainda no final dos anos 60. Com a
morte de Assis Chateaubriand, em 1968, os Diários Associados entraram em
processo de instabilidade administrativa, devido ao "agigantamento"
do grupo, embora já estivesse há dez anos comandado sob a forma de condomínio
acionário(que foi criado por Chatô e mais 22 pessoas em 1958 para garantir o
futuro da empresa).
Vários conflitos entre os condôminos
para ver quem era o verdadeiro dono dos Diários Associados e o jeito
anacronista de comando da empresa gerou uma crise financeira, que levou o grupo
a desvincular diversas empresas, entre elas a TV Cultura, que passou a ser
controlada pela Fundação Padre Anchieta, além de acabar com a tradicional
Revista "O Cruzeiro", antiga campeã de vendas, e este quadro arrastou-se
ao longo dos anos 70, isso também devido à rivalidade interna que até então
existia. As protagonistas dessa briga eram a TV Tupi Canal 4 de São Paulo e a
TV Tupi Canal 6 do Rio de Janeiro.
Outro fato que atrapalhava a vida da
Tupi era a concorrência que aumentava ainda mais, com a chegada de novas redes
e evolução de outras. A TV Globo já implantava o seu projeto de rede em 1969,
interligando o Brasil inteiro ainda através de troncos, fato visto no nascente
"Jornal Nacional" e no chamado "Padrão Globo de Qualidade",
que naquele período começava a ser imposto. Era o domínio avassalador da
emissora de Roberto Marinho. Não é à toa que a Globo firmou-se no 1º lugar de
audiência, tirando da Tupi, em anos posteriores, o título de
"Toda-Poderosa".
Para que o "racha" entre a Tupi Paulista e a Tupi Carioca fosse
amenizado, tudo isso em razão da formação definitiva da Rede Tupi de Televisão,
com 22 emissoras espalhadas pelo Brasil, em abril de 1974, foi feito um acordo entre
as duas emissoras. A Tupi do Rio comandaria a Rede nas Regiões Norte, Nordeste
e Centro-Oeste, enquanto a Tupi de São Paulo ficaria responsável pela Rede nas
Regiões Sul e Sudeste. Mas, a idéia acabou não vingando.
Assim, uma nova proposta surgiu para que as duas emissoras comandassem a Rede
Associada. A emissora paulista se encarregaria pela produção das Novelas, e a
emissora carioca teria a responsabilidade pela Linha de Shows.
Essa idéia também foi por água abaixo, o que fez a crise aumentar na Rede Tupi.
Ao longo dos anos 70, a dramaturgia, os musicais e os programas de variedades,
além de um modesto jornalismo destacavam-se como as principais estratégias da
Tupi, que não escondia o seu formato de rede, aproveitando a grande quantidade
de emissoras nas principais cidades brasileiras. Uma nova logomarca, com duas
ondas senoidais e três círculos(azul, vermelho e verde), foi criada
especialmente para mostrar os laços de rede que as emissoras associadas
pretendiam atar, aproveitando a tecnologia à cores que começava desembarcar em
nosso país, no ano de 1972. Embora a tecnologia de satélite ainda estivesse um
pouco distante de chegar, a cobertura era feita por links de microondas
presentes nos troncos
interligando as diversas localidades
do país.Nesta época a Rede Tupi apresentou grandes novelas de sucessos como:Vitória Bonelli,Mulheres de Areia,A Barba Azul,Os Inocentes,O Machão,A Viagem entre outras,tendo como estrelas maiores Eva Wilma(que viveu as gêmeas Ruth e Raquel em Mulheres de areia)e Cleyde Yaconis que vinda do teatro viveu a poderosa e vingativa Juliana na novela "Os Inocentes"ambas novelas chegaram a liderar em várias praças brasileiras.
A Tupi começou a
apostar em programas de maior aceitação popular e com isso, começou a vender
espaço para apresentadores que já tinham grande simpatia com o público. Com
isso, surgiram nomes como Silvio Santos(ex-Rede Globo), Carlos Imperial, Raul
Gil, Sidney Magal, além dos tradicionais "Almoço com as Estrelas" e
"Clube dos Artistas", ambos apresentados em São Paulo pelo casal
Aírton e Lolita Rodrigues e no Rio, por Aérton Perlingeiro, sendo que o último
foi transmitido de 1952 até 1980.
Vale a pena também destacar a
presença do Capitão Aza, líder absoluto de audiência nas tardes de segunda a
sexta, que esteve presente na emissora de 1966 até 1979.
Os musicais também tinham espaço na
Tupi dos anos 70, conforme visto no "Brasil Som". No jornalismo,
destacava-se o "Abertura", polêmico programa de entrevistas exibido
nas noites de domingo, além do "Rede Tupi de Notícias", o qual, em
1979, tinha três partes: Espaço 1 - Esportes, às 19:50, antes da primeira
novela; Espaço 2 - Noticiário Local, às 20:50, entre a primeira e a segunda
novelas; Espaço Maior - O Brasil e o Mundo, às 21:40, logo após a segunda
novela. E também o "Jornal da Tupi", exibido no final da noite. Na
apresentação destes noticiosos diários da Tupi, a presença da hoje
apresentadora da Rede Globo, Ana Maria Braga, que também atuava na apresentação
de festivais musicais, como o Brasil Som, em 1976.
Nas novelas, a Tupi por vezes alcançava êxitos. O seu último grande sucesso na
área de dramaturgia foi visto em 1978, quando foi exibida a novela "O
Profeta". Por falar nisso, um ano antes, seu penúltimo sucesso,
"Éramos Seis", junto com "Cinderela 77" e "Um Sol
Maior" haviam registrado as audiências mais baixas da história da
emissora.
Para piorar ainda mais a situação, a
Publicidade escapulia para as concorrentes, principalmente para a Rede Globo.
Lutando contra a crise que aumentava cada vez mais também devido às constantes
mudanças na direção, a Tupi prosseguia, mesmo debilitada, no cenário da TV
brasileira e por diversos momentos prometia à imprensa a chegada de revoluções
em sua programação.
Até chegou-se a noticiar em um
telejornal da Tupi, em 1978, que a emissora estava comprando novos
equipamentos, que havia terminado a construção do Telecentro Tupi (a sede da
Tupi Paulista), o início da construção de uma nova antena transmissora (que foi
concluída pelo SBT e até hoje retransimite o sinal do Canal 4 paulistano), e
desmentindo os boatos de que estava "mal das pernas". Mas a realidade
era totalmente diferente.
As dificuldades financeiras por
várias vezes atrasava o pagamento do ordenado de seus funcionários e as greves
por conta do fato surgiam, debilitando a programação da emissora. A primeira
greve aconteceu em outubro de 1977, pois a Tupi devia três meses de salários,
mas a greve parou em razão do pagamento parcelado dos salários. E mais; a
emissora tinha também dívidas astronômicas com a Previdência Social.
Em 1978, a emissora do Recife e o
Telecentro paulista foram vítimas de incêndios em suas instalações e a grave
situação da Tupi tornava-se próxima do irreversível.
No ano de 1979, o elenco e a produção da novela "O Espantalho", de
Ivani Ribeiro processaram a emissora por violação dos direitos autorais.
(A título de curiosidade, essa novela
foi exibida em 1977 na TV Record, em sua última produção dramatúrgica nos anos
70, em conjunto com a recém-inaugurada TVS, de propriedade de Silvio Santos,
que também exibia os seus programas simultaneamente na TV Record em São Paulo,
na TVS no Rio, e na Rede Tupi para todo o Brasil. Daí, esse foi o motivo do
imbróglio). Para complicar, veja uma comparação: em 1976 eram produzidas três
novelas simultaneamente, enquanto que, em 1979, são só duas e, a partir do
início de 1980, apenas uma.
Em fevereiro de 1980 (já com vinheta comemorativa de 30 anos), em plena produção
da novela "Como Salvar Meu Casamento", estrelada por Nicette Bruno e
Adriano Reis, desferiu-se um golpe poderoso e perigoso contra o principal elemento
do império associado. Uma greve paralisou o andamento do núcleo de dramaturgia
da emissora, interrompendo a história da novela, quando estava a 20 capítulos
do final. Também foi paralisada a produção da novela "Drácula - Uma
História de Amor", que teve apenas 5 capítulos exibidos(e havia sido muito
anunciada).
Com a paralisação, 250 funcionários
foram demitidos e o Departamento de Dramaturgia acabou extinto. O tradicional
segundo lugar que nos anos 70 marcou a história da Tupi decaiu para a quarta
posição(atrás também de Record e Bandeirantes) e os anúncios tornavam-se mais
difíceis na agonizante emissora. Com isso, a Rede Tupi passou a ser gerada pelo
Canal 6 do Rio de Janeiro. E sua programação ficou recheada de programas
evangélicos e produções independentes, que sucatearam-na o quanto puderam.
Isso deixava os telespectadores
tristes ao lembrar daquela emissora com ótima programação e sem crise, e olha
que a única coisa que havia sobrado na programação eram as vinhetas (feitas em
1978).
A situação tornava-se cada vez mais dramática, chegando inclusive a
sensibilizar o Governo Federal diante da situação complicada vivida pelos
funcionários da emissora. O então Presidente da República, João Figueiredo se
dispôs a receber em Brasília, uma comissão de dirigentes dos sindicatos
envolvidos no caso. Muito se discutia, porém quase nada se fazia.
A greve na Tupi prosseguiu até 16 de
julho de 1980, quando foi publicada no Diário Oficial a perempção de sete das
nove concessões pertencentes à rede. A velha emissora paulista, no auge da
greve, vinha retransmitindo a programação do Rio até o dia 14, quando grevistas
retiraram o seu sinal do ar, apagando-se para sempre dos lares de São Paulo.
As outras 21 emissoras, ainda em atividade,
promoveram assembléias em seus estúdios pedindo soluções para o caso, conforme
visto na Tupi do Rio de Janeiro, onde funcionários ficaram de vigília e ao vivo
diante das câmeras por 18 horas seguidas, comandadas pelo apresentador Jorge
Perlingeiro, filho do também apresentador Aérton Perlingeiro.
Reunidos, empregados, artistas e
alguns nomes de destaque na mídia da época chegaram a conversar ao vivo e por
telefone com o Ministro das Comunicações, sugerindo a entrega da emissora para
os próprios funcionários. E não pára por aí. Os empregados da emissora carioca
prometeram trabalhar de graça o tempo que fosse preciso para que a pioneira da
TV na América Latina não fechasse as portas. Mas, de nada adiantou.
As últimas e dramáticas imagens da TV Tupi do Rio, última sobrevivente da Rede
Associada, permaneceram no ar das 18:00 do dia 17, até o horário de 12:36 de 18
de julho de 1980, quando seus transmissores foram definitivamente lacrados,
apagando-se de vez as suas ultimamente pálidas imagens com a imagem de um
cartaz escrito "Voltaremos em Breve". A Tupi encerrava as suas
atividades em meio ao choro dos funcionários da emissora carioca. Uma das
imagens que marcaram o fim da Rede Tupi foi a foto de um cameraman chorando.
As pessoas envolvidas, direta ou
indiretamente, que lutaram bravamente para que a emissora pioneira na América
Latina continuasse no ar, jamais vão esquecer aquele triste e trágico dia 18 de
julho de 1980. Pelo jeito, desde aquele dia, acho que Assis Chateaubriand deve
estar contorcendo-se de raiva no túmulo, e nem precisa dizer o porquê.
Naquele mesmo 18 de julho, minutos
antes do meio-dia, três engenheiros do
Dentel (Departamento Nacional de Telecomunicações), subiram ao décimo andar do
Telecentro (edifício-sede da TV Tupi Canal 4 de São Paulo), retiraram o cristal
do transmissor e lacraram as antenas retransmissoras. Um delegado da Polícia
Federal e mais quatro agentes davam proteção aos engenheiros. O Governo Militar
achou melhor cassar a concessão do que entregá-la a uma cooperativa de
funcionários.
Morria com a Rede Tupi o pioneirismo e a tradição da televisão brasileira em
quase 30 anos de história, embora o seu desaparecimento originasse, em 1981,
duas concessões para redes de televisão: o SBT, de Silvio Santos, e a Manchete,
de Adolpho Bloch, sendo que a última entraria no ar só em 1983.
Só por curiosidade, a Rede Manchete
também teve praticamente o mesmo fim que a Tupi, sofrendo com as greves e o
sucateamento da programação. A Manchete foi vendida em maio de 1999 para a TV
Ômega, que tirou do ar tudo relacionado à emissora dos Bloch e criou a RedeTV!
Outro atrativo nesse assunto foi o tempo passado entre a morte de seus
fundadores e o fim das emissoras. Enquanto que a Tupi fechou 12 anos
depois(1968-1980) da morte de Assis Chateaubriand, só durou 3 anos e meio o
tempo entre a morte de Adolpho Bloch (novembro de 1995) e a venda da Manchete (maio
de 1999). Mas isso é um outro assunto.
Fonte
de pesquisa: sites na internet